Um blog sobre coisa alguma.

30.5.07

Estamos errados em pensar somente no nosso umbigo?

Tem um amigo meu que sempre diz: a sociedade é escrota.
Eu acho que ele tem razão na maioria das vezes. A sociedade é, normalmente, contraditória. E é contraditória por que cada um se preocupa apenas com seu próprio umbigo. O que é justo, se pularmos para aquela visão Darwiniana de que somos apenas animais evoluídos, e, nos animais, cada um se vira sozinho e só se une quando isso traz vantagens para ele. Não há nenhum animal que seja bonzinho por natureza, o que eles são é espertos e sabem que uma manada de gnus consegue fugir mais fácil de um leão, sendo que quando o leão chega, um morre, mas no meio de tantos, a probabilidade de que esse um não seja você é muito grande.
Homens também são assim. Vivem juntos por ser conveniente. Pensam em si mesmo por ser natural da "espécie". Pelo menos para quem concorda com Darwin e essa comparação com os animais.
O problema é que por pensar somente no próprio umbigo e ao mesmo tempo viver em sociedade, foram criados alguns códigos de comportamento social que tentam evitar que o homem pense no próprio umbigo, facilitando a vida em grupo e permitindo que cada um, por viver em grupo, tenha seu próprio umbigo mais seguro. No fundo, não passa de uma grande mentira, onde fingimos nos importar com outros para nos protegermos.
Mas com a criação desse código, não se pode mais ser egoísta naturalmente pois isso é proibido. E realmente uma pessoa egoísta é muito chata e filha da puta - embora eu só pense assim porque fui criado com base nesse código, portanto, desconsiderem isso momentaemente- .
Não poder ser egoísta sem culpa é o que faz com que você use chavões de comunicação aplicados à alta performance da vida social, o que pode ser traduzido pelo famoso "hoje tá calor né?" dito dentro de um elevador. Aquela risada de uma piada sem graça também funciona. A preocupação com a saúde de alguém que espirra é essencial. E o que eu acho mais interessante e curioso é a necessidade de ter dó de alguém que morre, embora seja um desconhecido.
É claro que ninguém, ou muito pouca gente quer morrer. Mas se todo mundo se preocupar com todas as pessoas que morrem diariamente em algum lugar do mundo, não há mais vida.
Milhares de pessoas devem estar morrendo neste segundo, o que é triste e chato para a família, amigos e gente pra quem ele estava devendo dinheiro, mas eu acho que é de conhecimento e consciência geral que para a maior parte de nós isso não faz diferença, não é mesmo? Claro as pessoas que morrem de fome na África, culpa de governantes filhos da puta que só pensam no seu próprio umbigo e que não precisam viver em sociedade pois a sociedade já vive pra eles. Eu acho justo ajudar essas pessoas a terem uma vida melhor. Mas pessoas morrem. Inclusive de fome. E não vão me fazer chorar diariamente durante as 24 horas do meu dia. E você pode até ler tudo isso e me achar um grande filho da puta egoísta, ok. Mas se você está lendo e não está se debulhando em lágrimas, saiba que você, mesmo que inconscientemente, é tão filho da puta quanto eu. A questão é que nos preocupamos com o que é nosso, do nosso convívio, da nossa família. O resto a gente não liga. Pensamos no nosso próprio umbigo. Ou estaríamos triste neste momento por causa de Sandra Corral, de 20 anos, e sua mãe Julia Manzanera, de 53. Elas foram assassinadas pelo namorado de Sandra, na Espanha.
A gente pensa só no nosso umbigo. Mas nunca deixe isso trasparecer, por favor.
Não podemos.
E quando encontrar com alguém no elevador, não esqueça de manter a pose e comentar: "frio hoje em São Paulo né?"

21.5.07

Há alguns programas de rádio sobre futebol que insistem em tentar ser culturais ao mesmo tempo. Enquanto futebol não é cultura, o programa também nnao deve ser. Ouvi um rapaz comentando sobre a Alemanha e uma bela praça alemã, perto de uma igreja muito bonita. Segundo ele, nessa praça havia um parque, onde as pessoas andavam de bicicleta, iam com as criançãs e faziam piquenique no chão, com os amigos. E ele exaltava a praça e o parque, e o comportamento dos alemães, que se unem nessa praça pra se dievertir. Que maravilha de parque. Que beleza de praça. Uma coisa sem igual, uma maravilha sem precedentes. Não fosse o fato de que fazemos exatamente a mesma coisa no parque do Ibirapuera e ninguém fala nada. Ninguém liga. Quando é na Alemanha é lindo, mas aqui é uma merda.
Não entendi direito o motivo daquele comentário. Achei idiota. Mas continuei ouvindo. O mesmo rapaz comenta que nessa mesma praça há pessoas tocando violinos por alguns trocados, ou seja, você caminha ao som de música, uma delícia de praça.
Eu trabalho perto da Paulista, e sempre que vou embora passo por um rapaz cabeludo que toca sanfona em troca de dinheiro. Já cansei de ouvir gente chamando o cara de vagabundo, de folgado, que devia trabalhar, que tinha que arrumar emprego, vagabudno, vagabundo.
Mais uma vez eu pensei: na Alemanha é lindo, um rapaz tocando música para os transeuntes, uma delícia. No Brasil, é um vagabundo, filho da puta desempregado.

O que eu acho? Vagabundo é vagabundo em qualquer lugar. Não venha me dizer que só por ser alemão, o loirinho é menos vagabundo do que o brasileiro. Vagabundo é vagabundo pela atitude e nnao pela nacionalidade. Mas jornalista bom é aquele que consegue ser parcial em todas as opiniões. Esse do programa esportivo deve ser um gênio. E um belo filho de uma puta.

15.5.07

Hopper Nude


Seu nome era Ripley. Sério, dedicado e com ternos de linho alinhados, engomados, alisados. Sua mulher o deixou por ele se dedicar demais ao trabalho. Era advogado, mas não exercia mais a função desde a separação. Segundo ele. “um advogado que não consegue evitar que sua própria mulher tome tudo o que ele tem não deve advogar para os outros”. Depois da separação nunca mais foi o mesmo. Desmontou. Montou um escritório. Se sentia dentro de uma baleia. Era assim que se escondia. Escrevia para revistas, histórias não muito comuns para sua época. Longe de ser um revolucionário escritor, ele era apenas, digamos, polêmico pela temática de suas histórias, um tanto proibida pela sociedade na época e pela igreja até os dias atuais. Ele, há muito, não fazia nada do que escrevia. O que lhe inspirava ainda mais. Em suas noites solitárias frente à máquina de escrever, batia. E batia muito. Até as mãos doerem. Chegava em casa cansado.
O telefone tocava e ele se distraía. Precisava de uma secretária. Ganhava bem o suficiente pra isso. Conseguiu uma em uma agência. Nível universitário. Claudia Regina. Sem acento, frisava. Mulher bonita, jovem e solteira. Morava com a mãe, beata e vivia com o dinheiro deixado pelo pai, padre. O dinheiro acabaria e ela aceitou o emprego. Nunca trabalhara. A inexperiência era compensada pela simpatia e a subserviência. Aceitava tudo o que ele dizia. Ripley sentia o seu perfume ao subir as escadas. A mesa bem arrumada, o armário organizado, a lista de recados e a janela entreaberta deixavam claro que ali havia uma mulher. O decote, a saia curta e os lábios molhados e vermelhos deixavam claro que ali havia uma bela mulher. Ripley trabalhava como nunca. E as noites era cada vez mais longas. Ele quase não ia pra casa. Muitas vezes passou a noite no escritório só pra vê-la chegar. Um dia Claudia Regina chegou mais cedo. Encontrou-o nu. Ele era rígido, muito rígido. Aquela atitude parecia estranha. Mas não pra ela. Entendeu que aquilo era normal. Ele ficou nervoso e encabulado. Ela disse que não se encabulara, nem achara estranho. Sabia que era necessário para que ele se inspirasse e conseguisse escrever tão bem. Estranho foi o pedido que ela fez depois. “Senhor Ripley, és muito talentoso. Ensina-me a escrever como o senhor?”. Ele ensinou. Mas como todo bom advogado, de trás pra frente.

8.5.07

A maravilhosa humanidade.

Um dia um homem das cavernas conseguiu contar pedras. Sabia que 5 pedras menos quatro pedras deixavam ele com apenas uma pedra. Genial pra sua época, mas fudeu a humanidade toda quando ele pegou seu lobo de estimação e mostrou aquilo pro lobinho, que não entendeu nada. Daí pra frente a humanidade passa por um caminho perigoso formado por: consciência da inteligência; auto-suficiência; noção; chatice; vida idiota; morte por suicídio.

Quando aquele cara descobriu que pensava e o cachorro não, ele logo pensou (pra usar de uma vez suas qualidades): "eu sou muito melhor que esse cachorro. Vou explorar esse dog filho da puta pra fazer coisas pra mim." Começou a parte da consciência da inteligência, começou a ficar em casa e o animal rodando o moinho, sentar na biga e o cavalo puxar a carroça, apoiar no arado e o boi andar pelo pasto. Eu acho que esses caras eram louváveis, animais são animais, irracionais (essa palavra surgiu depois do cara do cachorro, mas ele pensava nesse conceito), e podem nos ajudar muito. Não sou eu que vou ficar aqui defendendo animal ou índio. A ajuda dos animais era tão boa pros seres humanos que vários deles trepavam com os cabritinhos. Não é carinhoso?
Quando a humanidade começa a se achar fudida pra caralho, que manda nos bichos, que é o único animal inteligente, que consegue inventar coisas, criar máquinas e pode fazer o que quiser, chega à auto-suficiência. Cacete, a gente é fudido mesmo! Mas esquece que precisa, pelo menos, de oxigênio. Água se fabrica em laboratório, árvore também, mas oxigênio não. Então todo mundo cai na real e passa para a fase da noção. Alguém levanta a mão lá no fundo e fala: "mas se eu tiver dinheiro, puta e emprego mas não conseguir respirar, onde eu compro mais disso aí?" e começaram a pensar que, no mínimo o oxigênio precisa ser preservado. E começa a chatice. Eco-pentelhos, greenpeaces, petas e mais meia dúzia de pessoas que possuem ongs e sobrevivem muito bem de doações do dinheiro dos outros sem fazer esforço nenhum. Quase como um "dono" de sindicato. E enche a televisão com avisos sobre a morte dos animais, sobre o aquecimento global, sobre o efeito estufa, sobre a poluição do mar, o petróleo na água, as geleiras derretendo, os ursos polares canhotos e toda essa baboseira que toma espaço das gostosas na playboy, porque tem uma reportagem sobre essas merdas, cortam a Sexta Sexy pra colocar um Globo repórter, acabam com o futebol porque não pode pisar na grama, toda novela tem pelo menos um casal gay, um ambientalista e um desmatador, que é o vilão, e as empresas só fazem propaganda pr dizer que não maltratam o meio ambiente e eu me impressiono até com o fato da Natura ter lucro, porque ela é tão preocupada com o meio ambiente que eu acho que ela distribui shampoo e passa creme anti-rugas em casca de mogno. A consequência disso é a vida chata. "Não urine no jardim, filhinho. O ácido úrico mata as proteínas que dão sustância pra seiva da grama e a graminha vai pro céu." "filho, você vai andar de bicicleta, então coloca o capacetinho, a joelheira e a cotoveleira pra não se machucar." "Ai amor, você higienizou o seu trazeiro com papel de novo? já não falei que a cada vez que você defeca uma árvore é morta só pra desinfectar seu ânus?"
É a parte em que estamos agora. Você nota que não dá mais pra ligar a televisão e não ter uma reportagem sobre o meio ambiente e uma imagem de geleira derretendo. O próximo passo é o suicídio coletivo, quando ninguém mais aguentar ouvir tanto papinho politicamente correto.
Felizes eram nosso avós, que queimavam florestas, largavam comida no prato, a zona era liberada e a aids não existia.