Um blog sobre coisa alguma.

12.6.07

Mara.

A busca pelo amor verdadeiro fez de Mara uma pessoa estranha. Extremamente religiosa, só não acreditava mais na palavra do pastor do que acreditava na palavra da irmã mais velha. A irmã a criou depois que a mãe morreu. Por não ter dinheiro, a irmã, que também era religiosa, teve que optar entre a mulher de Deus e a mulher da vida. Escolheu a vida que lhe dava mais do que tirava. Largou Jesus num canto e foi catequizar garotinhos ricos de colégios particulares perto da Paulista. A irmã obrigava Mara a ir pra igreja e rezar, pela própria alma e pela alma dela também. Queria que Mara estudasse, virasse alguém na vida, não dependesse do próprio corpo nem do corpo de Cristo pra se salvar. A irmã de Mara via duas opções na vida de uma mulher: trabalhar e ganhar dinheiro ou arrumar um marido rico. Mara queria encontrar seu amor verdadeiro e seguir com ele para sempre. Isso combinava mais com a idéia do marido rico do que com a idéia de trabalhar.
Quando Mara contou isso à irmã, esta sentenciou: Marinha, querida, o amor que fica é o amor de pica.
Dito e seguido por Mara como tudo que a irmã dizia. Desse dia em diante, Mara pensou que se sua irmã, que a queria tão bem, dizia isso, é porque o pastor não estava tão certo quanto a esse negócio de só se entregar depois de casar. A busca pelo amor verdadeiro fez de Mara uma pessoa estranha, dizia eu no início. Talvez eu possa dizer que fez de Mara uma mulher estranha.
Pecava. E como pecava. Pecava com o gosto, a vontade e o coração puro de uma freira. E procurava, em cada pecado, o amor verdadeiro do qual Jesus lhe falara. E pecava gritando por Deus, clamando por Jesus e urrando em nome do amor.
E quanto mais pecava, mais gostava da igreja e mais se atinha às orações. Mas do amor que devia ficar, nenhum ficou. Enquanto isso, ela procurava. Inclusive na própria igreja. E quando se aproximava de um homem que achasse que poderia ser seu verdadeiro amor, seguia com seu ritual espiritual cristão. Explicava que estava em busca de um amor verdadeiro, daqueles que ficam, para sempre. E que desconfiava de que ele poderia ser aquela pessoa. Mas que ela não tinha certeza. E queria descobrir, em nome do senhor. Pra juntos, terem uma família e uma casa deles. Porém, nesse momento, eles poderiam usar a casa de sua irmã, só pra descobrir se eles se amam.
E os homens aceitavam, mesmo os casados, pois é feio recusar o pedido de ajuda de uma irmã. E eles ajudavam com toda a força que Deus havia colocado em suas veias. Pecando e rezando, numa espécie de hemodiálise espiritual que limpava a alma e sujava os lençóis.
Todas as orações acabaram dando resultado. Um dia Mara encontrou Tomé. Quando ela encostou nele, sentiu. E ele sentiu que ela sentiu. Ele também era religioso. Como ela. Ele orava muito. Como ela. Ele pensava em filhos. Como ela. E, enquanto eles se testavam, os dois chamaram por Jesus ao mesmo tempo. Um bênção.
Mara finalmente encontrou seu verdadeiro amor, graças a Deus. Tomé, que era o melhor cliente da sua irmã, fez as contas e viu que sairia mais barato.