Um blog sobre coisa alguma.

26.1.09

Conto: Uma moça.

Sentou ao seu lado no ônibus e abriu um livro de capa marrom. Ele se esforçou para ver o nome mas não conseguiu. Sentiu-se estranho de dividir com uma desconhecida um momento tão único. Ela lia. E para ele, ler um livro era entrar em uma história por completo. Ia se esquivando de cada página para não ser garupa daquele conto. Ela lia. Por uns momentos teve um pouco de dó ao ver que ela se emocionava com as palavras. Pensou na moça, no ônibus velho, no livro surrado, talvez emprestado. Ela lia. E tudo para que a moça, bonita a moça, pudesse ter histórias boas pra contar. Devia trabalhar em alguma das casa da região. Era bonita a moça para andar sozinha, ainda pensou. Ia descer. Não queria atrapalhar. Ela lia.Emocionada. Ele queria pedir licença. Era bem bonita a moça. Sem querer desabou seus olhos no decote. Ele olhava. Ela não notava ou não se importava. Na cabeça dele passavam mais histórias que naquele livro. Histórias que ela nunca poderia ler. Que jamais seriam escritas. Nem vividas. O ponto estava chegando. E o balanço do ônibus o fazia esquecer disso constantemente.Levantou, a olhou de cima, ela concentrada não olhou de volta. Não precisava, não eram seus olhos que ele buscava. Encostou a mão em seu ombro. Não sentiu nada. Nem ela. Apenas olhou para ele e para fora. Também desceria. Levantou e saiu. Ele atrás. Andou depressa na frente e entrou em uma das casas. O letreiro piscava. Ela guardou o livro. Ele entrou também. Algumas das suas histórias iam sair do papel.