Pra começar

Já que ninguém quer saber o que eu penso sobre o mundo, vou colocar a opiniaõ de outros no primeiro post.



"Não me causa surpresa ser convocado pela redação do Jornal de Debates para escrever sobre os "limites do humor". Não é a primeira vez, pensei com meus botões. Nem será a última, tenho a certeza desde já. Afinal, nosso mundo está cada vez mais intolerante e sem graça. E nosso tempo não é o do riso. É o tempo da raiva pela raiva e da morte pela morte.

Dia destes, lia uma ótima entrevista com o meu colega de miséria, o cineasta e também quadrinista Allan Sieber. A pauta era a mesma de agora. Ele falava, com sua peculiar ironia, sobre os limites do seu humor: "O meu limite? Bem, eu não faria uma charge sobre Maomé", brincou Sieber, citando o episódio da charge que assombrou o mundo por conta de sua violenta repercussão entre radicais árabes.

Este mesmo Allan Sieber já passou poucas e boas nas mãos de evangélicos ou mesmo católicos furiosos com o trabalho de humor que mantém em seu blog e em jornais e revista do país. Muitas e muitas vezes isto já aconteceu com ele e com outros do mesmo ramo. Eu próprio sofri quinze ameaças de morte numa única semana, no ano passado. Desta vez, eram grupos de radicais sionistas. Meu pecado? Publicar uma tirinha dos Malvados sobre a Questão Palestina no Jornal do Brasil.

Nos últimos anos, muitos humoristas foram mandados aos tribunais para acertar contas com falsos ofendidos. Alguns destes humoristas foram condenados a pagar multas por difamação, calúnia e até mesmo apologia ao crime. No meu entender, foram todos eles condenados por crime de opinião, algo que jamais deveria existir numa democracia. Mas são tantas as coisas que jamais deveriam existir em nossa democracia...

O humor é mesmo engraçado, me desculpem pelo infame trocadilho. Quando bem feito, tem a capacidade de assustar os que mandam no mundo e de fazer sorrir os que sofrem nele. Carrega a verdade impiedosa em seu cerne, bem escondida na carcaça do exagero e do que é caricato. Mas trata da verdade, e isto dói nos homens das mentiras.

É deste humor que faço a minha lança, quando estou a galope em meu lindo cavalo (um selvagem alazão chamado livre-pensar). Montado nele, as ameaças dos brutos, dos ladrões e de outros tantos arrogantes, viram brisa para acarinhar minha face."
André Dahmer - Os Malvados (www.malvados.com.br)


Tá certo.