Contos - Gustavinho do Papai.
Gustavinho, do papai.
Aos 12 anos Gustavo foi levado pelo pai a um puteiro. Seu pai não admitia a idéia de ter um filho homossexual e queria “mostrar logo o gosto da fruta pro menino se apegar a ela de pequeno”. Gustavo foi. E gostou, embora não soubesse o que estava acontecendo.
A formação básica de Gustavo partia de seu pai. Era um homem sábio, de frases profundas, curtas e raras. Com elas Gustavo aprendeu sobre a vida e passou a pensar com as próprias pernas. Aos 15, viajou com o pai e conheceu Mimi. Menininha da roça, com sardinhas no rosto e tranças no cabelo. Peituda, branquela e virgem, definiu o pai. Gustavo se interessou em saber mais sobre a criaturinha. Conversaram, caminharam, olharam para o horizonte juntos. No fim da noite voltaram para suas casas esperando o dia seguinte. Ao amanhecer, Gustavo encontrou Mimi novamente. Na cama de seu pai.
Não demorou muito pra perceber o que se passava e ver sua inocência escorrer junto ao sangue do lençol.
“Trepada perdida, nunca recuperada”. Assim explicou o pai. Assim entendeu Gustavo. Ele nunca recuperou a da Mimi. Se não comia um pedaço de hambúrger que seu pai lhe oferecia, imagine a moça.
Ela voltou pra casa, eles pra cidade. Nunca mais se viram. Ali ele finalmente entendeu que a vida não passava de uma grande orgia para a qual algumas pessoas são convidadas e outras não. Ele não queria ficar de fora. Tratou logo de arrumar seu convite. Era o orgulho de seu pai. Dia após dia, ao acordar, o pai, com um sorriso nos lábios, surpreendia menininhas semi-nuas correndo envergonhadas do quarto de Gustavo. O lençol sujo indicava o surgimento de mais uma mulher. Quando não eram as meninas do condomínio eram meninas da rua que cobravam barato.
A vida de Gustavo era boa. Trabalhava no banco e se divertia na cama.
Era quase uma religião, embora fosse excessivamente cético. Mas na sua própria igreja, rezava todos os dias.
Gustavo era o melhor funcionário do banco onde trabalhava. Dedicado, esforçado, inteligente, não parava. Sua motivação era uma só: dinheiro. Dinheiro com o qual ele comprou um colchão de água, um espelho para o teto, um home theater, uma banheira de hidromassagem e alguns brinquedinhos. E trabalhava, mais e mais. E desenvolvia soluções em qualquer coisa que pedissem. E todos sabiam que ele seria o presidente do banco um dia. Inclusive as estagiárias, que não cansavam de freqüentar o colchão d´água de Gustavo em busca de promoções. Promoção, na vida de Gustavo, é dar duas pagando só uma.
Gustavo morreu cedo. Bateu seu Miura conversível enquanto ganhava um presente de uma escriturária gorda do banco.
Não se sabe até hoje se ele foi o único a entender o verdadeiro sentido da vida ou se ele nunca entendeu nada sobre nada. “Trabalho é pra trepar”, dizia ele. “Um homem trabalha para ganhar dinheiro e trocar por putaria. Não fosse por isso, não haveria tanta clínica estética.”
Gustavo era quem sabia o quanto a vida compensava.
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