Um blog sobre coisa alguma.

26.11.07

Botão vermelho. Botão verde.

Quando pequeno, queria mudar o mundo. Seus olhos brilhavam a cada escândalo, presidentes derrubados, senadores descobertos, falcatruas desfeitas, todas as denúncias colocadas à face da população por um jornalista. Não tinha amigos, aprendeu a ler cedo para se distrair e não atrapalhar o pai e a mãe. Eles se tancavam no quarto e ele se escondia nas revistas. Não queria ser jornalista, queria mudar o mundo. Aquela cabecinha infantil ainda não sabia, mas o que ele gostava era do poder que a máquina de escrever, na época, lhe daria. O poder de controlar o destino de desconhecidos públicos, de monitorar políticos que não soubessem nem seu nome, um idealismo necessário para que qualquer adolescente escolhesse uma profissão, naqueles tempos em que dinheiro não contava tanto.
Quando prestou vestibular escreveu como nunca, uma redação impecável, embora a matemática fosse falha. Não passou. Nem no ano seguinte. Nem no outro. Nesse meio tempo, passou no concurso. Foi trabalhar num banco público.
A decepção era do tamanho da vontade de mudar.
Durante os dias, a rotina entediante e burocrática acabou vencendo. Foi ficando no banco. Foi pegando umas colegas de trabalho. Foi amortecendo no ego sua vontade de fazer melhor.
Não se dava bem com pessoas. Não se interessava pelas empresas. Não tinha perspectiva. A vaga que sobrou, depois de um período de sorte em que seu trabalho pareceu bem feito, foi para trabalhar com a bolsa de valores. Não falava com ninguém, não dependia de ninguém. Apenas investia o dinheiro dos outros, em silêncio. Um dia a raiva contida de todos aqueles anos escorreu pelos olhos. O acomodado se sentiu um rebelde medroso e fez uma daquelas loucuras que qualquer pessoa comum acharia normal. Vendeu todas as ações que estavam em nome da maior empresa que ele comandava. De uma vez. Só pra brincar. Ia retornar o dinheiro no dia seguinte.
Ligou o computador pra ler as notícias: Bolsa em queda livre faz BC intervir.
Fez o mesmo na semana seguinte. E na outra. Sorrindo.
Ele não sabia, mas o que ele gostava era do poder.

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