Um blog sobre coisa alguma.

15.5.07

Hopper Nude


Seu nome era Ripley. Sério, dedicado e com ternos de linho alinhados, engomados, alisados. Sua mulher o deixou por ele se dedicar demais ao trabalho. Era advogado, mas não exercia mais a função desde a separação. Segundo ele. “um advogado que não consegue evitar que sua própria mulher tome tudo o que ele tem não deve advogar para os outros”. Depois da separação nunca mais foi o mesmo. Desmontou. Montou um escritório. Se sentia dentro de uma baleia. Era assim que se escondia. Escrevia para revistas, histórias não muito comuns para sua época. Longe de ser um revolucionário escritor, ele era apenas, digamos, polêmico pela temática de suas histórias, um tanto proibida pela sociedade na época e pela igreja até os dias atuais. Ele, há muito, não fazia nada do que escrevia. O que lhe inspirava ainda mais. Em suas noites solitárias frente à máquina de escrever, batia. E batia muito. Até as mãos doerem. Chegava em casa cansado.
O telefone tocava e ele se distraía. Precisava de uma secretária. Ganhava bem o suficiente pra isso. Conseguiu uma em uma agência. Nível universitário. Claudia Regina. Sem acento, frisava. Mulher bonita, jovem e solteira. Morava com a mãe, beata e vivia com o dinheiro deixado pelo pai, padre. O dinheiro acabaria e ela aceitou o emprego. Nunca trabalhara. A inexperiência era compensada pela simpatia e a subserviência. Aceitava tudo o que ele dizia. Ripley sentia o seu perfume ao subir as escadas. A mesa bem arrumada, o armário organizado, a lista de recados e a janela entreaberta deixavam claro que ali havia uma mulher. O decote, a saia curta e os lábios molhados e vermelhos deixavam claro que ali havia uma bela mulher. Ripley trabalhava como nunca. E as noites era cada vez mais longas. Ele quase não ia pra casa. Muitas vezes passou a noite no escritório só pra vê-la chegar. Um dia Claudia Regina chegou mais cedo. Encontrou-o nu. Ele era rígido, muito rígido. Aquela atitude parecia estranha. Mas não pra ela. Entendeu que aquilo era normal. Ele ficou nervoso e encabulado. Ela disse que não se encabulara, nem achara estranho. Sabia que era necessário para que ele se inspirasse e conseguisse escrever tão bem. Estranho foi o pedido que ela fez depois. “Senhor Ripley, és muito talentoso. Ensina-me a escrever como o senhor?”. Ele ensinou. Mas como todo bom advogado, de trás pra frente.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Ripley! Talentoso Ripley!

5 June 2007 at 16:29

 

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